Riscos Psicossociais no Trabalho: O que São e Como Preveni-los

Colaboradora sobrecarregada enfrentando riscos psicossociais no trabalho

O que está por trás do cansaço emocional no trabalho?

Riscos psicossociais no trabalho são mais comuns — e prejudiciais — do que se imagina. Mesmo sem intenção, muitas empresas acabam criando ambientes que desgastam emocionalmente suas equipes: metas desumanas, cobranças silenciosas, falta de escuta ou reconhecimento. E quando esses fatores se acumulam, os impactos aparecem: afastamentos, queda de produtividade, rotatividade e até ações judiciais.

Neste artigo, você vai entender o que são esses riscos, o que diz a nova legislação (NR-01), como identificá-los na prática e por onde começar a agir — de forma humana, estratégica e com respaldo técnico.

O que são riscos psicossociais?

Riscos psicossociais no trabalho são fatores ligados à forma como a rotina profissional é organizada e vivida. Exemplos comuns:

  • Sobrecarga crônica
  • Metas inalcançáveis
  • Assédio moral ou velado
  • Falta de apoio emocional e escuta

Esses fatores impactam diretamente a saúde mental dos colaboradores e o desempenho da equipe. Ignorá-los é um risco — legal e humano.

O que mudou com a atualização da NR-01

A partir de maio de 2025, a NR-01 passou a exigir que os riscos psicossociais sejam avaliados e documentados no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos).

O período atual é educativo, com autuações previstas a partir de 2026. Mas a orientação técnica e a fiscalização já começaram.

🔗 Leia a portaria oficial no site do Ministério do Trabalho


Os impactos dos riscos psicossociais no trabalho

Os riscos psicossociais no trabalho não são apenas uma preocupação teórica — eles geram impactos concretos na saúde das pessoas e no desempenho das empresas.

Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS), só em 2023, mais de 288 mil brasileiros foram afastados por transtornos mentais e comportamentais relacionados ao ambiente de trabalho. Esses afastamentos não só fragilizam a saúde emocional dos colaboradores, mas também sobrecarregam equipes, comprometem prazos e aumentam custos operacionais.

E não é um cenário isolado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o estresse relacionado ao trabalho é responsável por uma perda de cerca de 4% do PIB global. Entre os prejuízos mais recorrentes estão:

  • Queda significativa na produtividade
  • Afastamentos prolongados e reincidentes
  • Rotatividade de talentos e perda de capital humano
  • Aumento de processos trabalhistas relacionados a assédio e sofrimento mental
  • Desgaste da imagem institucional

Esses números revelam uma verdade importante: empresas que ignoram a saúde mental pagam caro — com pessoas, com processos e com performance.

Em contrapartida, organizações que reconhecem e enfrentam os riscos psicossociais têm colhido benefícios reais, como:

  • Redução do absenteísmo
  • Mais engajamento e satisfação da equipe
  • Relações interpessoais mais saudáveis
  • Ambientes psicologicamente seguros e produtivos

Cuidar da saúde emocional no trabalho deixou de ser uma ação pontual — é uma estratégia de gestão consciente e sustentável.


Exemplo real: um caso em que os riscos psicossociais geraram ação judicial

Em maio de 2025, um caso envolvendo o Banco do Brasil ganhou destaque no noticiário jurídico e corporativo: um ex-gerente foi afastado por diagnóstico de transtorno de ansiedade após sofrer assédio moral praticado por subordinados. O mais alarmante? A empresa, mesmo ciente da situação, não adotou medidas protetivas nem investigativas.

A omissão custou caro. A Justiça do Trabalho entendeu que houve omissão da instituição na gestão dos riscos psicossociais e determinou o pagamento de R$ 150 mil por danos morais ao trabalhador.

📌 Fonte: Conjur – TRT-2 reconhece omissão do Banco do Brasil em caso de assédio psicológico

Esse tipo de caso reforça que o simples conhecimento do problema não isenta a empresa da responsabilidade. Pelo contrário: omitir-se diante de sinais de sofrimento emocional pode configurar negligência e gerar condenações severas.

Mais do que cumprir uma exigência legal, mapear e prevenir riscos psicossociais é uma questão de responsabilidade institucional, ética e estratégica.


Como prevenir riscos psicossociais no trabalho na prática?

Falar sobre riscos psicossociais não é suficiente — é preciso agir. A prevenção envolve tanto diagnóstico organizacional quanto a construção de um ambiente de trabalho mais saudável, humano e colaborativo.

Veja por onde começar de forma prática e responsável:

1. Escute sua equipe — com método e empatia

A primeira etapa é ouvir e observar com intenção. Nem sempre o sofrimento aparece de forma explícita. Por isso, vale utilizar:

  • Rodas de conversa com escuta ativa (facilitadas por RH ou SESMT)
  • Caixas de escuta anônima
  • Instrumentos validados, como:
    • SRQ-20 (Self-Reporting Questionnaire): recomendado pela OMS, validado no Brasil, útil para triagem de sofrimento psíquico
    • WHOQOL-BREF: avalia qualidade de vida e percepção do bem-estar
    • Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ): mais completo, voltado para diagnóstico organizacional, já utilizado por pesquisadores brasileiros

📌 Importante: esses instrumentos devem ser aplicados com orientação técnica, respeitando a ética e o sigilo.

2. Documente os riscos no PGR com clareza e critério

Com base nos dados coletados, registre no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR):

  • Quais fatores psicossociais foram identificados
  • Qual a origem ou área de impacto
  • Quais medidas preventivas serão adotadas (com prazos e responsáveis)
  • Como será feito o monitoramento e reavaliação

Isso atende às exigências da NR-01, fortalece sua gestão de saúde e evita futuras penalidades legais.

3. Atue no cotidiano com ações simples e eficazes

Prevenir riscos psicossociais também é sobre cuidar do ambiente diariamente. Algumas iniciativas que geram grande impacto:

  • Treinamentos sobre comunicação não violenta e escuta ativa
  • Oficinas sobre regulação do estresse, burnout e equilíbrio emocional
  • Implantação de espaços de pausa consciente ou “minutos de bem-estar”
  • Programas de mindfulness no trabalho, com práticas curtas e regulares (presenciais ou online)

Essas ações não exigem grandes investimentos — mas exigem intencionalidade. Quando bem conduzidas, melhoram o clima, fortalecem a confiança e diminuem os afastamentos.

🔗 Veja também: 5 Práticas de Mindfulness no Trabalho para Reduzir o Estresse


Mindfulness como estratégia contra riscos psicossociais no trabalho

Equipe praticando mindfulness para prevenir riscos psicossociais no trabalho

Entre tantas ferramentas possíveis para prevenir riscos psicossociais, o mindfulness se destaca por ser acessível, cientificamente respaldado e eficaz na criação de um ambiente emocionalmente mais saudável.

A prática de atenção plena ajuda colaboradores a desenvolverem:

  • Autopercepção emocional, favorecendo a autorregulação diante de pressões e conflitos
  • Clareza mental, útil para lidar com sobrecarga e excesso de demandas
  • Presença no aqui e agora, diminuindo a ruminação, o cansaço mental e o estresse crônico

Segundo uma meta-análise publicada pela JAMA Internal Medicine, programas de mindfulness reduzem os níveis de estresse em até 38% e promovem melhorias significativas na qualidade de vida e bem-estar psicológico, inclusive em contextos corporativos.

Mas não se trata apenas de meditação formal.

Empresas podem aplicar mindfulness de forma simples e estruturada, como por exemplo:

  • Iniciando a semana com 2 minutos de respiração consciente em equipe
  • Oferecendo workshops sobre atenção plena no trabalho
  • Criando espaços de pausa silenciosa ou práticas guiadas na intranet
  • Incorporando momentos de mindfulness em treinamentos de liderança, onboarding ou SIPAT

Essas microintervenções, quando consistentes, ajudam a reduzir a reatividade emocional, melhorar a convivência entre equipes e prevenir o adoecimento mental no ambiente de trabalho.

Implementar mindfulness não é misticismo — é uma estratégia concreta de promoção da saúde emocional no dia a dia corporativo.


Perguntas frequentes sobre riscos psicossociais no trabalho

1. Empresas pequenas também precisam se preocupar com isso?
Sim. Toda empresa — independentemente do porte — que possui colaboradores precisa avaliar e gerenciar os riscos psicossociais. A NR-01 exige que esses fatores estejam incluídos no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), mesmo em negócios de menor escala. Começar cedo ajuda a construir um ambiente mais saudável e prevenir problemas futuros.

2. Existem questionários prontos que posso aplicar?
Sim, existem ferramentas validadas como o SRQ-20, WHOQOL-BREF e o COPSOQ que ajudam a identificar sinais de sofrimento emocional ou ambientes de risco. Mas atenção: esses instrumentos devem ser aplicados com apoio técnico (como um profissional de saúde ou consultor capacitado), para garantir ética, sigilo e interpretação correta dos dados.

3. E se minha empresa ainda não tem estrutura para ações complexas?
Você pode (e deve) começar com o que está ao seu alcance. Algumas iniciativas simples, porém eficazes, incluem:

  • Promover rodas de conversa entre equipes
  • Criar espaços de escuta ativa com o RH
  • Realizar pausas conscientes ou práticas rápidas de mindfulness
  • Enviar conteúdos educativos sobre saúde emocional no trabalho

Pequenas ações consistentes podem gerar grandes mudanças no clima organizacional.

4. Riscos psicossociais são a mesma coisa que assédio moral?
Não. O assédio moral é um tipo de risco psicossocial, mas não o único. Sobrecarga de trabalho, metas inalcançáveis, falta de apoio da liderança, insegurança no ambiente e ausência de reconhecimento também são fatores psicossociais — e todos devem ser mapeados.

5. Como saber se minha empresa precisa de ajuda externa para isso?
Se você percebe que há adoecimento frequente, queda de produtividade, conflitos constantes ou dificuldade em abrir conversas sobre saúde mental, vale buscar apoio. Profissionais de saúde ocupacional, consultores em qualidade de vida e especialistas em programas como o mindfulness corporativo podem auxiliar na criação de um plano de ação adequado à sua realidade.


Conclusão: prevenir riscos psicossociais é cuidar da base da sua empresa

Cuidar dos riscos psicossociais no trabalho é mais do que seguir uma norma — é assumir um compromisso com o bem-estar da sua equipe, com a sustentabilidade do negócio e com a construção de um ambiente emocionalmente saudável.

E o melhor é que você pode começar com ações simples e acessíveis, como escuta ativa, pausas conscientes, treinamentos e práticas de mindfulness no dia a dia corporativo.

Se você deseja levar esse cuidado para sua empresa, seu projeto ou sua atuação profissional, continue acompanhando o blog Pratique Mindfulness. Aqui, eu compartilho conteúdos atualizados e aplicáveis sobre bem-estar, saúde emocional e qualidade de vida no trabalho.

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✨ Porque promover saúde mental no trabalho começa com informação — mas se transforma com atitude.

Referência Bibliográfica

GOYAL, Madhav et al. Meditation Programs for Psychological Stress and Well-being: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Internal Medicine, v. 174, n. 3, p. 357–368, 2014. DOI: 10.1001/jamainternmed.2013.13018.

MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Anuário Estatístico da Previdência Social 2023. Disponível em: https://www.gov.br/previdencia/pt-br/noticias/2024/dezembro/anuario-estatistico-da-previdencia-social-2023-ja-esta-disponivel-para-consulta. Acesso em: 5 jun. 2025.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE; ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. OMS e OIT fazem chamado para novas medidas de enfrentamento das questões de saúde mental no trabalho. 2022. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/28-9-2022-oms-e-oit-fazem-chamado-para-novas-medidas-enfrentamento-das-questoes-saude. Acesso em: 5 jun. 2025.

CONSULTOR JURÍDICO. Aumento da judicialização do assédio moral exige que empresas monitorem melhor riscos psicossociais. 2025. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2025-mai-16/aumento-da-judicializacao-do-assedio-moral-exige-que-empresas-monitorem-melhor-riscos-psicossociais/. Acesso em: 5 jun. 2025.

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