
Se você já se sentiu perdida diante de uma birra — aquela cena com gritos, choro e até a criança se jogando no chão —, saiba que não está sozinha. Neste artigo, vou mostrar como lidar com esses momentos difíceis usando educação emocional e mindfulness de forma simples e prática.
Muitos pais e educadores enfrentam birras com frustração ou culpa, mas é importante lembrar: birras não são manha, e sim um pedido de ajuda emocional. Elas são a forma que a criança encontra para expressar sentimentos que ainda não consegue compreender ou controlar.
Transforme o Caos em Conexão
Em vez de encarar a birra como um problema, veja-a como uma oportunidade de ensinar habilidades emocionais valiosas. Com a combinação certa de empatia, atenção plena e estratégias práticas de educação emocional, é possível:
✅ Acalmar a crise sem gritos ou punições
✅ Ensinar a criança a reconhecer e lidar com emoções
✅ Fortalecer o vínculo entre pais e filhos
Neste artigo, você vai aprender:
- Estratégias práticas de educação emocional para prevenir novas birras
- Por que as birras acontecem
- Quando a birra deixa de ser normal
- Os três erros que pioram as crises ( e como evitá-los)
- Porque Mindfulness e Educação Emocional ajudam a controlar as birras infantis
- Como prevenir futuras crises de birra
Por que as crianças fazem birra?
As birras são respostas emocionais intensas, comuns em crianças pequenas cujo cérebro ainda está em desenvolvimento. A área responsável pelo autocontrole — o córtex pré-frontal — só amadurece por volta dos 5 anos de idade.
Segundo Daniel J. Siegel, neuropsiquiatra e autor do best-seller O Cérebro da Criança, em momentos de estresse essa parte do cérebro se “desconecta”, dando lugar a reações impulsivas e desproporcionais. A criança não está tentando manipular, ela está lidando com uma emoção que não sabe nomear.
Ou seja, quando uma criança se joga no chão, grita ou chora descontroladamente, ela não está tentando “vencer” uma discussão: ela está pedindo ajuda para lidar com algo que ainda não sabe nomear ou expressar.
Quando a birra deixa de ser normal?
Você deve se preocupar quando a birra:
- É muito frequente e intensa: birras diárias, que duram mais de 15 a 20 minutos e que não melhoram com tentativas de acolhimento.
- Vem acompanhada de comportamentos agressivos ou perigosos: como se machucar, bater em outras pessoas ou destruir objetos.
- Demonstra dificuldade em se acalmar sozinha: mesmo após o fim da crise, a criança continua desregulada emocionalmente por mais de 30 minutos e não consegue se recuperar com apoio.
- Impacta a rotina da família: quando as birras impedem atividades cotidianas como sair de casa, ir à escola ou participar de eventos sociais.
- Parece desproporcional à situação: a reação da criança é muito intensa diante de frustrações pequenas ou limites simples, e isso se repete com frequência.
Esses sinais podem indicar que a criança está com dificuldades maiores de regulação emocional e precisa de apoio. Nesses casos, é recomendado buscar ajuda de um psicólogo infantil ou orientações com o pediatra.
Os três erros que pioram as birras (e como evitá-los)
Tentar conter a criança à força, gritar ou punir pode intensificar a crise. Focar apenas no comportamento impede que você acesse o que realmente está acontecendo: uma emoção mal compreendida. Então lembre-se:
❌ Gritar ou ameaçar: Aumenta o estresse e prolonga a crise.
❌ Punir: A criança se sente rejeitada, gerando mais desregulação emocional.
❌ Tentar conter a força: Ensina que birras são inaceitáveis e não uma reação natural da condição da criança.
O ideal é usar a abordagem “nomear para acalmar”, como propõe Siegel. Validar sentimentos com frases como “Você está frustrado porque queria brincar mais” mostra empatia e começa a ativar o processo de autorregulação emocional.
A neuropedagoga brasileira Maya Eigenmann, reforça esse conceito ela diz que “a birra é uma forma de comunicação da criança diante de emoções que ela ainda não consegue verbalizar”, por isso o primeiro passo é conduzir a criança a validar e nomear suas emoções.
Porque Mindfulness e Educação Emocional Ajudam a Controlar as Birras Infantis?
Birras são episódios de desregulação emocional. A prática de mindfulness (atenção plena) é uma ferramenta poderosa, pois ativa o córtex pré-frontal, ajudando a criança a se acalmar e a tomar consciência das suas emoções. Além disso, o mindfulness permite que a criança aprenda a prestar atenção no momento presente, sem se deixar dominar pelos sentimentos intensos, facilitando o processo de regulação emocional.
👉 Lei também: O que é mindfulness e como ele pode ajudar sua família?
Por outro lado, a educação emocional ensina a criança a nomear e identificar seus sentimentos, o que contribui para uma melhor compreensão das suas emoções e reduz a ocorrência de explosões emocionais, como as birras. Ao reconhecer o que sente, a criança tem mais recursos para lidar com a frustração e outras emoções difíceis de forma mais saudável.
Método C.A.L.M.A: 5 passos para lidar com a birra usando educação emocional e mindfulness
Desenvolvi com exclusividade um método de 5 passos baseado na educação emocional e nas práticas de mindfulness para você aplicar de forma simples naqueles momentos intensos de birra. Esse método se chama C.A.L.M.A
1. [C]:: Consciência Ativa (você primeiro!)
A criança está desregulada. Se você se desregula junto, aumenta o caos. Respire fundo, conte até 10 e ative a consciência dirigindo sua atenção para o momento presente, mantendo a calma e o equilíbrio, sem julgar o ocorrido, se for necessário saia por alguns segundos e retorne de maneira intencional e consciente. Isso ajuda a responder de forma mais ponderada e não com reatividade.
2. [A]::Acolha o sentimento da criança
Dizer “eu entendo que você está bravo” é mais eficaz do que dizer “pare com isso”. Acolher é validar mas não significa permitir comportamentos inadequados e sim mostrar que sentir raiva, tristeza ou frustração é humano.
3. [L]::Ligue a emoção a causa
Ajudar a criança a nomear o que sente e relacionar com o motivo que a levou a sentir a emoção é uma das estratégias mais eficazes. Você pode usar frases como:
- “Você está com raiva porque queria mais tempo no parquinho.”
- “Você está triste porque o brinquedo quebrou.”
4. [M]::Mostre estratégias de regulação
Alguns exemplos:
- Respirar junto (inspira pelo nariz, solta pela boca)
- Apertar uma bolinha antistresse
- Se afastar um pouco para se acalmar
- Contar até 10
- Usar frases-calma como “Eu posso me acalmar” ou “Está tudo bem sentir raiva, mas posso escolher o que fazer com ela.”
5. [A]:: Ajude a criança encontrar soluções
Ofereça apoio prático para transformar a emoção em ação, guiando a criança na busca de soluções após a tempestade emocional.
Exemplos :
- “Que tal marcarmos no relógio quando voltarmos amanhã? Você pode escolher seu brinquedo favorito para começar.”
- “Vamos pegar uma cola e tentar consertar seu brinquedo?
Devo intervir durante ou depois da birra?
Outro ponto importante é entender qual o melhor momento para intervir: durante ou depois da birra?
Durante a birra:
Nesse momento, o cérebro da criança está tomado pela emoção. Ela não consegue ouvir, raciocinar ou aprender. Por isso, evite broncas, castigos ou tentativas de argumentar. Em vez disso:
- Use o [C]:: do método, mantenha a calma e garanta a segurança dela e das pessoas ao redor;
- Esteja presente de forma acolhedora, com poucas palavras e tom de voz tranquilo;
- Se possível, leve a criança para um ambiente mais calmo ou retire objetos de perto que possa machucá-la;
- Espere a tempestade emocional passar — sua presença segura já é uma grande intervenção.
Depois da birra:
Quando a criança estiver mais calma, é hora de concluir o método, aplicando as demais letras do acrômio. É nesse momento que o cérebro está mais receptivo para aprender:
- [A]:: Acolha o que ela sentiu: “Você ficou muito frustrado, né?”
- [L]:: Ligue a emoção à causa, nomeie as emoções e valide o que ela viveu;
- [M]:: Ensine formas de auto regulação;
- [A]:: Ajude a criança a encontrar soluções ou alternativas de se expressar de forma mais equilibrada.
Essa abordagem respeitosa ajuda a criança a desenvolver autorregulação emocional e fortalece o vínculo com o adulto.
Quando buscar ajuda profissional?
Se você percebe que as birras estão muito frequentes, intensas, prolongadas ou acompanhadas de comportamentos agressivos, buscar apoio profissional pode ser um passo importante.
O acompanhamento com um psicólogo infantil pode ajudar a entender as causas por trás das crises, oferecer estratégias personalizadas e fortalecer a saúde emocional da criança e da família como um todo.
Prevenir futuras crises com rotina emocional
As habilidades emocionais se constroem no cotidiano — e fora das crises. Ler um livro juntos, praticar a respiração antes de dormir ou conversar sobre o dia são formas poderosas de conexão e prevenção de futuras birras.
Dados recentes reforçam a importância de ajudar nossas crianças a regular suas emoções . Um estudo da Unifesp, em parceria com as universidades de Columbia e Johns Hopkins, avaliou mais de 1.200 crianças de 4 a 5 anos em escolas públicas e revelou que 25% apresentavam sinais de desequilíbrio emocional (Fonte: Fapesp, 2023).
Por outro lado, um estudo no Rio de Janeiro, baseado em um programa adaptado de Harvard, mostrou que atividades de educação emocional reduziram em 50% comportamentos problemáticos e em 60% a hiperatividade entre crianças de 3 a 6 anos (Fonte: Saúde Abril, 2023).
Ao adotar uma rotina emocional para lidar com birras infantis, pais e educadores desenvolvem uma abordagem mais empática e eficaz, que fortalece o vínculo com a criança e contribui para seu desenvolvimento saudável.
Mindfulness para crianças: uma ferramenta poderosa
Alguns exemplo de prática de mindfulness para fazer com crianças:
- Respiração Mindful: Ensinar a criança a prestar atenção a sua respiração e tentar controlar seu ritmo de forma consciente — inspirando pelo nariz e expirando pela boca — é uma ferramenta eficaz para ajudar a acalmar o corpo e a mente e trazê-la de volta a um ponto de equilíbrio;
- Olhar Mindful: Diante de um contexto que pode levar a birra, sugerir fechar os olhos por um momento e observar o que está sentindo e dar nome as emoções, sua intensidade, em que parte do corpo ela se manifesta. Isso vai ajudá-la a se reconectar com seu estado interior e reduzir a intensidade da raiva ou até mesmo evitá-la.
Mindfulness para pais e educadores
Para os adultos, o mindfulness também é uma ferramenta poderosa. Em momentos de birra ou crise, os pais podem aplicar a atenção plena para se manterem calmos, em vez de reagirem impulsivamente. Respirar profundamente, contar até 10 ou até sair por alguns segundos (se possível) ajuda a responder com mais consciência e não com reatividade. Isso permite que o adulto seja um modelo de regulação emocional para a criança, e não apenas um disciplinador.
Conclusão
Eu sei que lidar com birras é desafiador — mas também é uma oportunidade preciosa de ensinar seu filho(a) a lidar com o mundo interno e externo.
A educação emocional aliada ao mindfulness transformam a relação entre pais e filhos, fortalecem vínculos e preparam as crianças para a vida com mais empatia, resiliência e equilíbrio.
Lembre-se: saber como lidar com birras infantis usando educação emocional e mindfulness é um processo contínuo, mas que gera resultados duradouros no comportamento e bem-estar da criança.
Preparei para um Infográfico lindo, criativo e didático com o Método C.A.L.M.A para lembrar e ajudar você a colocá-lo em prática no seu dia a dia. Basta preencher o formulário ao final desse artigo e você terá acesso a nossa Biblioteca de Recursos Gratuitos.
👉 Leia também: Mindfulness para Pais: Aproveite Melhor o Tempo com Seus Filhos
Vamos juntos tornar cada birra um convite a uma conexão mais profunda, ao afeto e à construção de um futuro emocionalmente mais saudável para nossos filhos(as). Lidando com as birras usando educação emocional e mindfulness, você terá não apenas resultados reais no comportamento, mas uma educação para a vida inteira.
Referências bibliográficas
- Pesquisa FAPESP. Os desequilíbrios emocionais de crianças na pré-escola. 2023.
- Saúde Abril. Educação emocional reduz condutas-problema. 2023.
- SNITKER, Rebekah Lipp; BICKLEY, Craig Phillips. Ari encontra a calma. Tradução de Mariana Kohn. São Paulo: Matrix Editora, 2025.
- SIEGEL, Daniel J.; BRYSON, Tina Payne. O cérebro da criança: estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar. São Paulo: Editora Versos, 2012.
- EIGENMANN, Maya. A raiva não educa. A calma educa.: Por uma geração de adultos e crianças com mais saúde emocional agora. São Paulo: Paz e Terra, 2020.
